Atualização sobre a saúde de David Miranda/ Update on David Miranda's Health
Hoje completam-se três meses da internação de David na UTI. Mais detalhes e algumas reflexões sobre esta situação // Today marks 3 full months of David's hospitalization in ICU. Some reflections here.
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Hoje completam-se três meses da internação de David na UTI. Ele continua em estado grave mas estável. O hospital que o trata desde o início, a Clínica São Vicente, segue disponibilizando boletins oficiais sobre o seu estado de saúde.
A dificuldade em fornecer atualizações sobre a condição de David decorre da natureza de sua doença e do seu processo de recuperação extremamente dinâmico. O quadro muda radicalmente de um dia para o outro. David pode passar uma semana mostrando melhorias consistentes que fazem nós e seus médicos acreditarem que ele está finalmente chegando perto de sair da UTI, apenas para complicações complexas e potencialmente perigosas surgirem sem aviso prévio, o que muda drasticamente nossa perspectiva e sua trajetória.
Isso já aconteceu muitas vezes desde sua internação no dia 6 de agosto. Por isso o perfil de hoje do UOL sobre a experiência de nossa família traz a manchete “tortura emocional.” Essa é a frase que melhor descreve esse processo. David passou a última semana mais uma vez mostrando melhorias significativas e animadoras, levando-nos a acreditar — e torcer — que ele estivesse começando a sair de vez da zona de perigo. Mas na noite de sábado, uma uma infecção pulmonar nova e potencialmente ameaçadora foi descoberta, diminuindo se não esmagando nosso entusiasmo. Esta é a montanha-russa cruel e, por enquanto, interminável desta doença.
Como explica a reportagem do UOL, David vinha convivendo com várias dores abdominais e problemas digestivos por semanas antes de ser internado, mas os atribuiu ao estresse de Brasília e da campanha eleitoral iminente. Quando ele chegou à sala de emergência, vários órgãos de seu sistema gastrointestinal estavam gravemente inflamados e infectados. Essa inflamação e infecção entraram em sua corrente sanguínea (sepse), e então se espalharam e começaram a comprometer e causar falhas em um órgão após o outro: seu pâncreas, rins, fígado e, finalmente, seus pulmões.
Durante as semanas em que ele melhorou mais, ele conseguiu respirar por dias sem a necessidade de um respirador. Ele foi capaz de falar com sua própria voz usando um tubo especializado. Nossos filhos podiam visitá-lo regularmente. Nossa família inteira passava uma hora ou mais com ele diariamente enquanto brincava com as crianças, se gabava de sua força e, em geral, compartilhava momentos de profunda e sincera afeição.
Nas últimas seis semanas, David conseguiu receber e interagir com visitantes diariamente. Isso inclui sua enorme família, nossos amigos mais próximos no mundo da política e do jornalismo, seus amigos mais antigos de infância e – quando faz sentido fazê-lo – nossos filhos. David sempre foi e ainda é uma pessoa que deu muito valor à conexão humana, e essas visitas lhe dão uma enorme força e alegria.
Uma vez que David se estabilizou e apresentou os primeiros sinais de melhoria, a sedação foi gradativamente reduzida. Em meados de setembro, David já estava acordado e comunicativo. Passado esse primeiro mês, David está plenamente consciente de sua situação, interage com seus médicos e visitantes, e as poucos vem recuperando a consciência e se mostrando lúcido e comunicativo.
Eu sei que é difícil para algumas pessoas entenderem como alguém tão jovem, forte e saudável pode acabar passando tanto tempo na UTI. Infelizmente, isso é mais comum do que pensamos: certamente mais comum do que eu imaginava antes que esse pesadelo se abatesse sobre nossa família. Infecções e inflamações graves que se espalham pelo sangue e que acabam comprometendo múltiplos órgãos estão entre os estados mais graves e perigosos que alguém pode sofrer.
É apenas a relativa juventude e força de David - física, mental e espiritual - que o permitiu atravessar alguns desses momentos extremamente aterrorizantes. Nada disso teria acontecido se ele não tivesse a sorte de ter uma equipe excelente e extremamente dedicada de médicos, especialistas e enfermeiros - algo que todos os seres humanos merecem quando estão doentes, mas que infelizmente grande parte das pessoas neste planeta não tem. Mesmo com todas esses privilégios, houve muitos momentos em que pensamos que o pior aconteceria, e eu gostaria de poder dizer, mas ainda não posso, que David superou os riscos mais graves.
Desde o início desta provação, a maior parte minha fé e esperança estavam depositadas não na medicina ou na ciência dos médicos, mas na força inigualável de David. Toda a sua vida foi definida pela luta e pela superação de desafios impossivelmente difíceis. Eu vejo essa força — de vontade, de caráter e de espírito — de perto todos os dias, há 17 anos. Mesmo quando ele não está bem, essa força continua visível em seu rosto, em seus olhos, e posso senti-la em suas mãos. Nos momentos mais difíceis, é isso que me dá a maior esperança.
Não sei qual será o resultado da hospitalização de David. Ninguém sabe. Mas eu sempre acreditei e ainda acredito que David vai se recuperar totalmente e voltar para casa para sua família. A única certeza que tenho é que isso mudará David de maneira profunda e para melhor, da mesma forma que mudou a mim, nossos meninos e todos na vida de David que estão passando por isso conosco.
Não tenho nenhuma novidade a oferecer. Mas há insights que se atingem - não apenas racionalmente, mas da maneira mais profunda e visceral - apenas quando temos que encarar batalhas extremamente assustadoras e emocionalmente dolorosas. Essa é uma dessas batalhas, e todos todos nós saíremos dela pessoas diferentes.
Seja grato por tudo que você tem em sua vida, e nunca tome isso como garantido. Todos os dias quando acordo tento fazer com que meu primeiro pensamento seja de que sou grato por David estar em nossas vidas hoje, por nossos filhos serem saudáveis, por estarmos cercados por tantas pessoas que nos amaram e nos apoiam. Nunca se sabe o que vai acontecer amanhã.
Penso muitas vezes em como David e eu tratamos o dia 5 de agosto como qualquer outro dia em nosso casamento — cada um de nós trabalhou, provavelmente discutimos por nada, possivelmente negligenciamos celebrar nosso amor — porque não tínhamos ideia de que este seria o último dia completo, que realmente passaríamos em casa de maneira normal, em meses. Cada momento que passo rindo com nossos filhos, ou encontrando maneiras de apoiá-los, ou recebendo o apoio afetuoso deles, são momentos que tento abraçar e valorizar.
Também fiquei muito emocionado e grato pela onda de decência humana de todos os cantos. O fato de o telefone e a caixa de email de David estarem cheios de amor, apoio, oração e apoio de pessoas de todo o mundo e de todos os grupos ideológicos do Brasil é uma prova eloquente do amor que ele inspira. É impossível não gostar de David, e a efusão de sentimentos dos lugares mais improváveis é um reflexo de sua bondade inerente e definidora. Mas eu realmente acredito que também é um reflexo da bondade inerente que a maioria dos seres humanos possui, mesmo que isso não seja expresso em meio a todos os tipos de razões sociais e psicológicas.
O sonho de David sempre foi ser pai e ter uma família grande. Esse nunca foi o meu sonho. David passou anos tentando me convencer de que ser pai seria imensamente gratificante, e a desfazer as minhas dúvidas se eu poderia fazê-lo bem. Ele recrutou amigos para ajudar nessa campanha de persuasão. E quando finalmente concordei em 2016 que juntos adotaríamos nossos filhos para construir nossa família, eu preciso confessar que ainda não tinha certeza se estava preparado para fazer o que acreditava que seriam grandes sacrifícios — sacrifícios no trabalho e na carreira, nas liberdades egoístas, no capacidade de viver a vida de forma espontânea e até imprudente.
De tudo que vivi, a coisa pela qual sou mais grato é que David conseguiu me convencer. Não há nada que eu valorize mais na vida do que nossos filhos e a família que criamos juntos. David me ensinou a ser pai, e eu tive que encontrar maneiras de fazer isso sozinho nos últimos meses enquanto ele está fora de combate. Por mais difícil que tenha sido — e é impossível exagerar a dificuldade de encontrar maneiras de oferecer o apoio emocional certo a crianças tão diferentes, que sofrem com os mesmos medos de ver David hospitalizado que eu sofro — foi a coisa mais gratificante que eu já tive que fazer. Posso dizer com certeza que as crianças que David e eu criamos juntos me apoiaram tanto quanto — ou mais — eu os apoiei desde que tudo isso começou.
Não sei como teria conseguido lidar com tudo isso sem eles e sem a motivação diária de apoiá-los e protegê-los. Nos piores dias, é isso que me tira da cama. Das coisas que eu passei a vida toda sendo ensinado a desejar e perseguir — estabilidade financeira, sucesso na carreira, fama, acesso a ambientes de elite — nada me forneceu um mínimo conforto emocional ou realização espiritual durante essa provação. Eu trocaria tudo isso em um instante para ter David de volta em casa com a gente, saudável e sorridente como ele sempre foi. Experiências como essas deixam poucas dúvidas sobre o que de fato importa e o que não importa na vida.
Somos muito gratos por todos aqueles que enviaram mensagens de apoio e amor. Eu compartilhei o máximo que pude com David e não tenho dúvidas de que isso o ajudou. O processo de recuperação de David vai continuar longo, árduo, difícil e cheio de desafios imprevistos. Continuo a acreditar na sua plena recuperação mesmo sabendo que nada é garantido. Mas nada é garantido para nenhum de nós além do momento presente. E o melhor que qualquer um de nós pode fazer é tentar maximizar o valor e a alegria do nosso presente.
ENGLISH
Today marks three full months of David's hospitalization in ICU. He continues to be hospitalized in serious but stable condition. The hospital that has been treating him from the start, Clínica São Vicente, continues to have available official updates on his health.
The difficulty in providing updates about David's condition is that the nature of his disease, and his recovery process, is extremely dynamic. It can change radically from one day to the next and has done so many times. He can spend a week showing dramatic improvements that make us and his doctors believe he is finally approaching the exit of ICU, only for complex and potentially dangerous complications to emerge without warning, which abruptly change our outlook and his trajectory.
This has happened many times since his hospitalization on August 6. That is why Sunday's profile in the Brazilian news site UOL — on how our family has dealt with David's health crisis — bears the headline "emotional torture." That is the best phrase to describe this process. David spent the last week once again showing significant and encouraging improvements, leading us to believe — or at least hope — that he was starting to permanently exit the zone of danger. But on Saturday night, a new and potentially threatening pulmonary infection was discovered, diminishing if not crushing our growing enthusiasm from the last week. This is the cruel roller-coaster that has shaped David's recovery process from the start.
As the UOL article explains, David had been experiencing various forms of abdominal pain and digestive problems for weeks before being hospitalized, but dismissed them as the by-product of stress from his work as a member of Congress in Brasília and his imminent re-election campaign. By the time he arrived at the Emergency Room exactly three months ago today, various organs of his gastro-intestinal system were severely inflamed and infected. That inflammation and infection entered his bloodstream (sepsis), and then traveled to and began to compromise and cause failure in one organ after the next: his pancreas, kidneys, liver and finally his lungs.
During his first week in the hospital, he experienced complete renal failure which required continuous hemodialysis. His liver and pancreas were severely compromised. His worsening lung problems required David to be intubated one week after being hospitalized. Once it became clear that he would require long-term intubation, a tracheostomy was performed to free him from having a tube occupying his mouth and throat; instead, the respirator would connect to his lungs through a surgical opening in his neck.
After that first week of hospitalization, where everything worsened rapidly, David was largely in a medically induced coma for the next month, to allow his body the maximum space and energy to recover. He clearly recognized visitors and reacted to what we said, but his state was essentially fully sedated.
Once David became stabilized and even began showing signs of improvements, he received less and less sedation. By the middle of September, he was awake and communicative. David's sedation has been regularly reduced since then. After that first month, he has been fully aware of his situation, able to interact with his doctors and visitors, and has gradually became more and more aware, lucid and communicative.
During the weeks when he has improved most, he was able to breathe for days without the need for a respirator. He was able to speak in his own voice using a specialized tube that allows the air to be captured enough to speak. Our kids were able to visit him regularly. During those best weeks of recovery, we were able to spend an hour or more with him daily as he joked with the kids, playfully boasted of his strength, and in general shared moments of profound and deep affection.
For the last six weeks, David has been able to receive and interact with visitors on a daily basis. That includes his large extended family, our closest friends in the world of politics and journalism, his oldest friends from childhood, and — when it makes sense to do so — our children. David has always been a person who most values human connection, and these visits give him enormous strength and joy.
I know it is hard for some people to understand how someone so young and otherwise healthy could end up spending so much time in ICU. Unfortunately, this is more common than we think: certainly more common than I realized before this nightmare descended on our family. Infections and severe inflammation that spread by blood and that end up compromising multiple organs are among the gravest and most dangerous conditions one can suffer.
It is only David's relative youth and strength — physical, mental and spiritual — that has enabled him to navigate past some truly terrifying moments. But none of that would have happened without his being fortunate enough to have a superb and extremely dedicated team of doctors, specialists and nurses which all human beings deserve when they are ill but which most people on this planet are denied. Even with all those advantages, there have been many moments when we thought that the worst might happen. I wish I could say, but sadly still cannot, that David is past those most severe risks.
But since the beginning of this ordeal, I have always placed the most faith and hope not in medicine or science of doctors but in David's strength. His whole life has been defined by having to battle and overcome impossibly difficult challenges. I've seen that strength — of will, of character, of spirit — up close every day for the last 17 years that we have been together. Even during the days or weeks when he is not doing well in the hospital, I can always see that strength in his face and feel it in his hands. In the most difficult times, that is what gives me the greatest hope.
I don't know what the outcome of David's hospitalization will be. Nobody does. But I have always believed and still do that David will fully recover and come home to us. The one thing I am sure of is that this will change David in profound and positive ways the way it has for me, our boys, and everyone in David's life who has suffered through this with us.
I have nothing to offer that is new. But there are insights that one can know — not know only rationally but in the deepest and most visceral way — only by enduring deeply frightening and emotionally painful battles like this.
Be grateful for everything you have in your life, and never take it for granted. Every day after waking up, I try to have my first thought be positive rather than negative: that I am grateful that David is in our lives today, that our kids are healthy, that we are surrounded by so many people who love and support us. One never knows what will happen tomorrow. I think often of how David and I treated August 5 like any other day in our marriage — we each worked, probably squabbled about nothing, may have neglected to celebrate our love — because we had no idea that this would be the last full day we would really spend at home in a normal way for months. Every moment that I spend laughing with our kids, or finding ways to support them, or receiving such affectionate support from them, are moments that I try to embrace and value.
I have also been so moved and grateful for the wave of human decency from every corner. That David's phone and inbox are filled with love, support, prayer and support from people all over the world and from every ideological camp in Brazil is probably a testament to the love he inspires. It's impossible not to like David, and this outpouring of sentiment from the unlikeliest of places is a reflection of his inherent and defining goodness. But I really believe it's also a reflection of the inherent goodness that most human beings possess, even if that goodness often struggles to find expression through all sorts of social and psychological barriers.
David's dream was always to be a father and have a large family. That was never mine. David spent years trying to convince me that being a father would be immeasurably gratifying, and that my doubts about whether I could do it well were invalid. He recruited friends to help in this persuasion campaign. And when I finally agreed in 2016 that we would adopt together, I was still unsure about whether I was prepared to make what I believed would be great sacrifices in order to do it well — sacrifices in work and career, in selfish freedoms, in the ability to live life spontaneously and even recklessly.
The thing for which I am most grateful is that David succeeded in that persuasion effort. There is nothing that I value in life more than our kids and the family we created together. David taught me how to be a father, and I have had to find ways to do it on my own these last few months while he was unable. As hard as this has been — and it is impossible to overstate the difficulty of having to find ways to provide the right emotional support to very different kids as they suffer through the fears and trauma of seeing their father hospitalized for this long, knowing the gravity of his illness — it has been the most gratifying thing I have ever had to do. I can say with certainty that the kids that David and I have raised together have helped me at least as much as I have helped them since this all started.
I don't know how I would have managed to cope with any of this without them and without the motive to support and protect them which gets me out of bed every day. When it comes to what makes life worthwhile and meaningful and fulfilling, there is nothing that even approaches the same universe in which the love one has for family resides. There is nothing that I spent my whole life being taught to crave and chase — financial stability, career success, fame, access to elite precincts — that provided even minimal emotional comfort or spiritual fulfillment during this ordeal. I would trade all of that in an instant in exchange for having David back at home with us healthy for any amount of time. Experiences like these leave little doubt about what matters in life and what does not.
We are very grateful for all those who sent messages of support and love. I have shared as many of those as I can with David and I have no doubt it has helped him. David's recovery process is going to continue to be long, arduous, difficult and full of unforeseen challenges. I continue to believe in his full recovery even while knowing that nothing is guaranteed. But nothing is guaranteed for any of us other than the present moment. And all any of us can do is try to maximize the value and the joy of our present.
Best wishes to David for a full recovery. Best wishes, likewise, to you and your entire family as you continue to navigate this trauma. One day at a time.
I have seen for a long time what a strong and passionate man David is. I am one of the many, many people who admire you and him, Glenn, and I hope and believe he will come through this and be back with his family. My very best to all of you.